Para chegar a esse resultado, os pesquisadores, liderados pela bioestatística Paola Sebastiani e pelo médico geriatra Thomas Perls, analisaram o mapa genético de mais de 2 mil pessoas, cujos dados foram armazenados pelo New England Centenarian Study, um projeto da Universidade de Boston que coleta informações sobre longevidade. No grupo dos centenários, foram estudados os genes de pessoas nascidas entre 1890 e 1910, que tinham de 95 anos a 119 anos. Desses, um terço tinha algum parente de primeiro grau que também era caracterizado pela longevidade excepcional. No grupo de controle, a análise concentrou-se sobre filhos de indivíduos que morreram antes de completar 80 anos.
Depois de se debruçar sobre o mapeamento dos genes dos dois grupos, os cientistas descobriram que 150 variantes genéticas são responsáveis pela vida centenária — o que não significa apenas ultrapassar a barreira de 100 anos, mas chegar lá com saúde. De acordo com o estudo, é possível prever com 77% de certeza se um indivíduo vai conseguir viver mais que um século.
Além disso, a equipe identificou 19 grupos de genes encontrados em 90% dos centenários que garantem a essas pessoas uma espécie de imunidade contra doenças associadas ao envelhecimento, como demência e hipertensão. Os cientistas também observaram que 45% dos centenários mais velhos — aqueles com mais de 110 anos — eram os que possuíam a maior proporção de variantes genéticas associadas à longevidade. “Essas ‘assinaturas genéticas’ são um novo avanço rumo à medicina preventiva. Um método analítico (o mapeamento genético) poderá prever e proteger contra numerosas doenças, assim como facilitar o desenvolvimento de medicamentos individualizados”, acredita Thomas Perls, fundador e diretor do New England Centenarian Study.
A pesquisa não se resumiu à busca dos genes relacionados à vida centenária, mas também procurou as variantes relacionadas ao surgimento de doenças. Com isso, os cientistas poderiam saber a real importância das variantes da longevidade — as pessoas talvez vivessem mais por ter menos predisposição a ficarem doentes. Para tanto, os pesquisadores analisaram quantas variantes associadas a doenças havia no mapa genético de cada centenário, e compararam com os genes dos indivíduos do grupo de controle. O resultado provou que há pouca diferença entre os dois grupos, o que sugere que as variantes da longevidade são mais importantes que as demais.
Isso sugere que prever o risco de um paciente desenvolver determinada doença utilizando como base apenas a predisposição genética para aquele mal pode levar a um resultado impreciso, pois seria importante cruzar os dados com outras variantes. De acordo com os autores, uma pessoa pode ter genes que favorecem, por exemplo, o aparecimento de uma doença degenerativa, como Parkinson. Porém, se as variantes da longevidade excepcional também estiverem presentes no organismo, o risco de que aquele mal se desenvolva seria bem menor do que o imaginado.
Artigo: Paola Sebastiani et al. Genetic Signatures of Exceptional Longevity in Humans. Science, 2010
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